Estrada carroçável Theresina a Altos
9/8/2020
Boa parte das estradas de rodagem construídas na década de 1920 foram de iniciativa do Governo do Estado do Piauí durante a gestão do governador João Luís Ferreira (1920-1926). Porém, particulares (Políticos e comerciantes locais) ajudaram também na abertura seja parcialmente – como a Theresina-Livramento – ou mesmo totalmente.
Muito provavelmente a velha estrada ligando Teresina a Altos (Elevada a categoria de cidade em 1922) tenha sido edificada apenas com dinheiro do Governo do Estado. Assim como muitas das estradas do Piauí, era talvez rota por onde séculos atrás passaram colonos, escravos, vaqueiros, rebanhos de gado e toda classe de mercadorias que abasteciam as localidades. A chegada dos veículos automotores e a necessidade de escoar com maior rapidez os produtos fazia necessário seu melhoramento uma vez que seu aspecto era bastante rudimentar à época.
Trecho da estrada carroçável Theresina-Altos.
(1926 / Annuario Estatístico do Piahuy / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: Teixeira/Typografia Teixeira)
Uma imagem do Annuario Estatístico do Piahuy revela que, pelo menos em 1926, estava totalmente pronta já que o livro havia sido lançado nesse ano. A tal fotografia mostra a carroçável, a mata virgem e um grupo de cinco pessoas bem vestidas em um automóvel. Ou se tratava de um veículo oficial do Governo usado apenas para o registro fotográfico ou provavelmente pertencia a gente de boas condições financeiras na sociedade, pois automóveis nessa época eram um artigo raro, caro e de luxo (Nota 1).
Quase uma década depois, uma edição do Almanaque da Parnaíba, datada de 1934, trazia mais imagens da rodovia. Aqui vemos que é descrita como “a melhor estrada de rodagem de todo o Piauí”. E mais uma vez surge um automóvel percorrendo a carroçável e desbravando os sertões.
Aspecto da estrada carroçável Theresina-Altos.
(1934 / Almanaque da Parnaíba / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
Curiosamente, toda a extensão da atual Avenida João XXIII era considerada como sendo a rodovia Theresina-Altos. Os bairros Jóquei e Noivos, na Zona Leste da capital, ainda não existiam de fato e suas ocupações aconteceram primeiramente com chácaras e sítios. Não é de se estranhar. Nas primeiras décadas do século XX, Teresina não chegava a ultrapassar a margem direita do rio Poti. Entre 1924 e 1926, a zona urbana da capital se limitava apenas até mais ou menos a região do 25° BC e da Estação Ferroviária.
Alcançava-se a estrada no início por meio de pontão e a partir de 1936 através da Ponte de Madeira (Na região da Ilhotas próximo de onde hoje está a Ponte Ferroviária). Quando a velha ponte foi levada pelas águas do Poti, em 1947, mais uma vez se usou o pontão até que se construiu definitivamente a Ponte JK na década de 1950.
BR-343, antiga carroçável Theresina-Altos.
(1976 / O Dia / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
Com o tempo se tornou bastante movimentada não só de carros mas também veículos pesados como ônibus e caminhões. O ponto que hoje corresponde ao Balão do São Cristóvão era, na realidade, uma parada de motoristas. Não era à toa. Tratava-se de um entroncamento. Ali havia sido inaugurada, em junho de 1924, uma estrada ligando a capital à cidade de União.
Como todas as carroçáveis, se tornou perigosa. Primeiro pelo aumento do fluxo de veículos e, por fim, pela poeira que diminuía a visibilidade causando acidentes idênticos ao do Desastre da Cruz do Cassaco, em 1958, na BR-316. E uma trágica colisão aconteceu em 1957 justamente na Theresina-Altos (Conhecida nessa época como BR-22, hoje BR-343). Um ônibus da empresa Marimbá e um caminhão Ford colidiram nas proximidades de Altos matando 33 pessoas (27 no local e 6 no Hospital Getúlio Vargas) entre elas Joaquim Canuto de Melo, prefeito de Piripiri.
BR-343 no trecho do Morro do Uruguai.
(1983 / Acervo do IBGE / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
A velha Theresina-Altos ganhou sua primeira camada de pavimento asfáltico durante os mandatos do governador Helvídio Nunes de Barros (1966-1970) e do prefeito José Raimundo Bona Medeiros (1969-1970). Feito facilitado pela instalação da Fábrica de Asfalto, em 1968, e, principalmente, pelo ideal de retirar a pecha de atraso dada ao Estado do Piauí.
Nota:
(1) Chico Castro em A Coluna Prestes no Piauí informa sem citar fontes que, em 1924, havia em Teresina três ou quatro automóveis. Já o Annuario Estatístico do Piahuy, de 1926, informa de maneira mais detalhada o número de 50 veículos existentes só na capital sendo 9 caminhões (Ford e Chevrolet) e 41 automóveis (Studebaker, Chevrolet, Overland, Ford, Gray e Rugby).