Ponte de madeira sobre o Rio Poti (1935-1947)

28/9/2015

Muitos teresinenses imaginam que a Ponte Metálica foi a primeira a ser inaugurada na capital. Essa proeza, no entanto, coube a uma antiga ponte de madeira sobre o Rio Poti. A “Dama de Ferro” teve sua construção iniciada em 1922, mas conclusão e inauguração só em 1939. Já a ponte sobre o Poti foi inaugurada um pouco antes, em 1936, durante o governo de Leônidas de Castro Mello (1935-1945).

Projetada pelo engenheiro e Diretor de Obras Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves (1895-1982), a Ponte de Madeira, como ficou conhecida, era considerada uma obra ímpar na cidade. Como o próprio nome diz, era em sua maioria feita de madeira tendo consumido várias toras de aroeira, árvore comum nas matas de Teresina e ideal para construções, pois não apodrece, não é atacada por cupins e é muito resistente às intempéries. Tinha entre 150 a 170 metros, uma pista e quase vinte pilastras (Também de madeira!) sustentando-a. O trajeto da Avenida Circular (Avenida Miguel Rosa) até ela chamava a atenção pela pista de rolamento revestida com piçarra.

Antiga Ponte de Madeira sobre o Rio Poti.
(1936 / SEMPLAN / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Ficava localizada próxima à antiga passagem de São Raimundo, onde hoje ficam os bairros Piçarra e Ilhotas, mais ou menos no mesmo lugar entre a atual Ponte Wall Ferraz e a ponte ferroviária (Nota 1). Fazia ligação com uma gleba de terra chamada São Raimundo (Na margem direita do Poti) e dava acesso a outra região próxima conhecida como Noivos (Zona Leste), até então quase desabitada e com alguns poucos sítios e chácaras. Pela ponte também era possível atingir localidades mais distantes como Porto do Centro e Socopo, embora a travessia fosse mais frequente na altura do atual Zoobotânico.

Era obra de grande importância socioeconômica uma vez que contribuiu para a expansão da Zona Sul, para o desenvolvimento de uma feira livre na Piçarra e arredores (Nota 2), e permitiu a rápida locomoção a outras cidades piauienses – e vice-versa – alcançando com eficácia a Theresina-Altos, considerada a principal e melhor estrada de rodagem do estado do Piauí durante as décadas de 1930 e 1940.

Antiga Ponte de Madeira sobre o Rio Poti.
(s/d / Folheto de “O Dia – 160 anos de Teresina” / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Antes dessa ponte, havia dificuldade de se passar de um lado a outro do Rio Poti. Fazia-se a transposição de maneira rudimentar por meio de canoas – assim como os primeiros desbravadores do Piauí no século XVII! – e, principalmente, através dos chamados pontões. Estes últimos eram grandes balsas que suportavam bastante peso sendo comum levar até carros e caminhões. Mesmo com a conclusão de várias pontes sobre o Rio Poti, a população teresinense ainda usava muito este meio de transporte. Até 1991, por exemplo, era possível ver muita gente na região do Poty Velho utilizando um pontão rebocador com motor MWM de quatro cilindros, construído em 1986 na gestão do prefeito Wall Ferraz (1986-1989), para alcançar a outra margem do Poti visando atingir a região da Santa Maria da Codipi (Antiga localidade/povoado Poeirão). Suas atividades só foram encerradas com a inauguração da Ponte Mariano Gayoso Castelo Branco (“Ponte do Poty Velho”).

Enchente do Rio Poti que levou parte da antiga Ponte de Madeira.
(1947 / SEMPLAN / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Apesar de ter sido feita com madeira resistente e ter sido uma obra importante gerando valorosos serviços à capital, a Ponte de Madeira durou pouco tempo: onze anos. Durante a grande enchente que acometeu Teresina entre dezembro de 1947 e janeiro de 1948, ela simplesmente ruiu e parte dela foi levada pelas águas do Rio Poti que havia elevado bastante o seu nível. Reza a lenda que no momento da cheia do rio passavam dois carros pela ponte. Um deles foi carregado pelo Poti no exato instante em que ela foi engolida pela força das águas (Nota 3).

Com o fim da Ponte de Madeira, pouco tempo depois iniciaram as construções de uma outra ponte, feita de concreto armado, agora em outro ponto ligando a Avenida Frei Serafim à Zona Leste. Também fora projetada por Luiz Mendes Ribeiro Gonçalves com execução do engenheiro Cícero Ferraz de Souza Martins. Entrou em funcionamento a partir de dezembro de 1953, durante o governo Pedro de Almendra Freitas (1951-1955), mas só seria inaugurada oficialmente no dia 14 de janeiro de 1957, no governo de Jacob Manoel Gayoso e Almendra (1955-1959), com a presença do presidente da República Juscelino Kubitschek sendo que a obra foi, posteriormente, batizada com o seu nome.

Enchente do Rio Poti que levou parte da antiga Ponte de Madeira.
(1947 / Acervo digital do IBGE / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d) 

Com a construção da Ponte JK, não se sabe se ainda ficaram os restos da Ponte de Madeira para contar alguma história. Provavelmente foram esquecidos durante um tempo.

Em 1969, os trilhos da Estrada de Ferro Central do Piauhy, depois de quase cinquenta anos da edificação dos seus primeiros ramais, enfim chegaram a Teresina e se tornou necessária a construção de uma ponte ferroviária (Nota 4) ligando-os aos trilhos da Estrada de Ferro São Luiz-Therezina. Em 1995, perto dessa ponte ferroviária e do local da antiga Ponte de Madeira, construiu-se a Ponte Wall Ferraz.

Detalhe da antiga Ponte de Madeira sobre o Rio Poti sendo construída.
(1935 / Propaganda do 1º ano do Govêrno Leônidas de Castro Mello / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Notas:

(1)
Algumas páginas dão a informação incorreta de que a ponte ficava localizada na região da Ponte JK, a mesma que liga as avenidas Frei Serafim e João XXIII.

(2) Provavelmente se trata do princípio do Mercado da Piçarra, antigamente conhecido como Mercado da Lama.

(3) A história foi confirmada por um dos nossos entrevistados, mas nenhuma notícia foi encontrada nos jornais da época. Portanto, é muito provável que seja mais uma das muitas anedotas teresinenses.

(4) Inaugurada em 15 de janeiro de 1969 pelo 2º Batalhão de Engenharia e Construção (Crédito ao nosso visitante Tarcisio Vilarinho).