27/1/2020 

Uri Geller é uma prova viva de como alguém pode enganar milhões de pessoas de maneira inusitada. Nascido em Tel Aviv (Israel), ficou mundialmente conhecido na década de 1970 por suas “supostas atividades paranormais” dentre elas dobrar talheres e consertar ou danificar relógios apenas com o poder de concentração da mente – herdado por extraterrestres, segundo ele.

Milhares de pessoas testemunharam que tiveram seus objetos metálicos danificados ou consertados no momento que assistiam às apresentações do “paranormal” pela TV.

Devido à fama mundial, foi convidado para se apresentar em várias cidades brasileiras e, de quebra, a TV Globo preparou um especial em 15 de julho de 1976 (Quinta) que foi ao ar ao vivo às 21h no Teatro Fênix (Rio de Janeiro). O sucesso foi grande e marcou um incrível índice de audiência de 90%. Dessa maneira foi realizado outro, dessa vez em 1º de agosto (Domingo) às 16h, com a intenção de bater a estreia do programa Silvio Santos pela TV Tupi e TVS. Ambos foram apresentados por Hilton Gomes, veterano na televisão tendo sido ao lado de Cid Moreira o primeiro locutor da primeira edição do Jornal Nacional em 1969.

O programa de 15 de julho chama a atenção por uma imagem capturada pelo jornal O Dia diretamente de um televisor provavelmente no momento da transmissão do especial pela TV Clube, inaugurada em 1972 e desde novembro de 1974 passando a emitir o sinal da TV Globo. A imagem se torna emblemática como resquício de uma exibição de sua grade de programas, pois era a única TV existente em Teresina até então e se sabe que praticamente nada sobrou de arquivo da emissora piauiense na década de 1970 (Nota 1). E se torna mais ainda emblemático quando se sabe que o especial com Uri Geller atraiu os olhares dos teresinenses naquele dia consolidando cada vez mais um hábito de lazer na cidade: assistir TV.

Tanto atraiu a atenção que o jornal O Dia noticiou que pessoas de lugares diferentes da capital afirmaram que tiveram seus talheres entortados ou relógios que voltaram a funcionar.

“Apesar da distância, Uri Geller conseguiu muitas adesões em Teresina de pessoas que não acreditavam na força da sua mente: Enoque Cardoso da Silva, residente no Bairro Vermelha, viu garfos e colheres entortarem-se diante do vídeo; no Matadouro o relógio de Fernanda Cardoso dos Santos Mascarenhas voltou a funcionar; e Lindomar Vieira está usando seu relógio que estava sem funcionar há muito tempo, marcando as horas exatas desde a noite de anteontem.

Houve ainda telefonemas para as redações de O DIA e TV Rádio Clube citando exemplos de outras peripécias do jovem judeu de 30 anos, que se apresentou para todo o Brasil na Rede Globo de Televisão, atingindo piques de audiência nunca alcançados por qualquer programa especial da televisão brasileira.”

O mais curioso de tudo é que os relatos em Teresina apareceram um pouco mais de dez dias depois da apresentação na TV Globo tendo em vista que a matéria do jornal saiu no dia 24 de julho de 1976 (Nota 2).

O fato comprovado é que muita gente se aproveitou para ter seus minutos de fama ou foi simplesmente enganada visto que os ditos paranormais são mágicos e aplicam truques ilusionistas para ganhar fama e arrancar muito dinheiro de suas vítimas. O próprio Uri Geller, que já foi questionado por nunca conseguir entortar as armas de guerra mas tão só coisas fúteis como colheres e garfos, foi desmascarado pela primeira vez ainda em 1973, ou seja, três anos antes de sua aparição na televisão brasileira.

Aconteceu no programa The Tonight Show (Da emissora norte-americana NBC) quando James Randi sugeriu ao apresentador Johnny Carson e a sua produção alguns artifícios para comprovar como tudo não passava de truque e mau uso do ilusionismo: os desenhos que Geller comumente dizia adivinhar vieram já feitos e guardados em envelopes; a mesa era suficientemente pesada (Feita de pedra e aço) para que os tubos de alumínio não se mexessem, pois era batendo na mesa que sabia qual deles estava cheio ou não; e os próprios tubos de alumínio tiveram o fundo revestido com material específico para também retirar qualquer possibilidade de se moverem. Resultado: não conseguiu efetuar nenhum dos ditos “poderes paranormais” nesse dia e alegou “estar sendo pressionado”. Já o truque para dobrar chaves e talheres era muito simples. Geller falava bastante, às vezes alto, e se movimentava e gesticulava muito para distrair as pessoas, ao mesmo tempo em que forçava ligeiramente os objetos com as mãos ou os dedos para entortá-los aproveitando alguma ocasião para isso.(Nota 3)