26/9/2020

Desde 1972 a cidade de Teresina possuía apenas um sinal de televisão representado pela TV Clube com frequência no canal 4 repetindo a programação da TV Globo a partir de 1974. Esse monopólio durou um bom tempo, tanto que se popularizou entre nós a história de um telespectador que havia ligado à emissora reclamando da programação e ironicamente um funcionário lhe pedia para trocar de canal (Nota 1).

Tudo começou a mudar durante os governos dos presidentes João Figueiredo (1979-1985) e José Sarney (1985-1989) que outorgaram inúmeras concessões de rádio e TV em todo o Brasil. Foi assim que apareceram canais de televisão nacionais como o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) e a Manchete através dos espólios da extinta TV Tupi, assim como os locais TV Bahia (Bahia), TV Tribuna (Espírito Santo), TV Alagoas (Alagoas) e TV Pioneira (Piauí).

Nesse contexto surge também a TV Timon, emissora de televisão maranhense (Canal 7 com o prefixo ZYA 655) sediada em Timon (Maranhão), cidade vizinha a Teresina e separada desta apenas pelo rio Parnaíba (Nota 2). A sede ficava no bairro Planalto Formosa, mesmo local que havia sido construída a torre de transmissão (Nota 3). Essa torre era famosa, pois ficando em outra cidade garantia o sinal aos telespectadores teresinenses em caso de alguma adversidade. Um exemplo claro disso era quando os demais canais de Teresina ficavam temporariamente “fora do ar” seja por problemas técnicos na sede, seja por queda de energia. A frequência da TV Timon, por sua vez, permanecia inalterada enquanto os demais ficavam com o “chuvisco”.

A concessão estava em parte em mãos do empresário maranhense Paulo Delfino Fonseca Guimarães (Mais conhecido como Paulo Guimarães) com muitas ligações políticas em Timon tendo sido seu pai (Napoleão Guimarães) três vezes prefeito e uma vez deputado estadual. Também era proprietário Fernando Sarney cuja família (Sarney) é dona também do Sistema Mirante de Comunicação que incluía a TV Mirante de São Luís, a TV Imperatriz e a própria TV Timon.

Ainda que estivesse sediada na cidade maranhense, o alvo maior sempre foi a capital piauiense. Tanto era que a parte administrativa era gerenciada em Teresina e, posteriormente, no início da década de 1990, se construiu uma torre de transmissão e um prédio para as instalações definitivas do canal, ambos no bairro Monte Castelo (Zona Sul da capital). Sem contar que, desde 1986, constava na vinheta oficial da emissora os dizeres TEREZINA-PIAUÍ (Teresina escrita com Z mesmo!).

Entrou em operação no dia 25 de abril de 1985 repetindo integralmente o sinal da TV Bandeirantes. Estava em fase de testes e saiu do ar em 21 de dezembro, provavelmente por problemas relacionados com a família Saad (Dona da Bandeirantes), pois em 23 março de 1986 já entrava definitivamente no ar, mas como afiliada do SBT/TVS.

O começo foi sofrível e tudo feito de maneira precária quando comparado com a TV Clube, a TV Pioneira e a TV Antena 10, fato comprovado nos relatos de funcionários da emissora em um documentário lançado em 2016 (Nota 4).

Foi assim que a capital piauiense entrou em contato pela primeira vez com várias atrações do SBT (Inaugurado em 1981) como os programas de auditório de Hebe Camargo, Silvio Santos (Porta da Esperança e Programa Silvio Santos) e Gugu Liberato (Viva a Noite e TV Animal); os infantis do palhaço Bozo, Sérgio Mallandro, Mara Maravilha, Mariane e Simony; inúmeros seriados como O Super-herói Americano, Spectreman e os mexicanos Chaves e Chapolin; e os telejornais Aqui Agora e TJ Brasil.

Nos anos de 1985 e 1986 já era possível ver externas com sua canopla como se pode comprovar em várias fotografias dos jornais impressos de Teresina, embora as produções locais tenham surgido só em 1987. Destacaram-se os programas A Química do João Cláudio (Com o humorista João Cláudio Moreno), o TJ Meio-Dia (Versão local do TJ Brasil apresentado por Tony Trindade) e os telejornais polêmicos dos paranaenses Carlos Moraes e Donizete Adalto.

A TV Timon teve sua última emissão em 31 de dezembro de 1995. Foi rebatizada no primeiro dia do ano seguinte como TV Meio-Norte, herdeira de toda sua história e de todo o material produzido durante seus dez primeiros anos.

Há várias hipóteses para essa mudança de nome. A primeira diz respeito a um projeto ambicioso de um conglomerado de mídia regional independente (Nota 5) e o nome “Timon” parecia ser algo restrito. Seu sinal não estava mais apenas em Teresina ou em Timon, mas já alcançava muitas cidades da região do Meio-Norte nordestino (Piauí e leste do Maranhão). Há ainda quem diga que a mudança era para frear alguns processos judiciais que vinha enfrentando (De ex-funcionários ou processos que indiretamente atingiam o grupo como aqueles que judicializavam membros da família Sarney). Outra versão era sobre a separação com o Sistema Mirante cujas emissoras passaram a ser afiliadas da TV Globo em 1991.

Embora tenha mudado sua denominação, seu nome permanece até hoje na razão social da empresa com a nomenclatura “Sistema Timon de Radiodifusão“.

Notas:

(1) Walteres Arrais, que por muito tempo trabalhou na TV Clube, nega a história. Já o jornalista esportivo da emissora, o cearense João Eudes “Bolinha”, confirma.

(2) Muitos não consideram a TV Timon como um canal piauiense, pois de fato toda sua história estava ligada ao Maranhão.

(3) A torre de transmissão em Timon foi derrubada em um vendaval no ano de 1995. Reconstruída, hoje pertence à TV Mirante Cocais.

(4) No Meio do Povo, documentário feito em homenagem aos 30 anos da TV Meio-Norte.

(5) Pode-se dizer que esse projeto de emissora independente começou realmente com as aquisições iniciais da rádio Poty e do Jornal O Estado, ambos da família do jornalista e deputado estadual Hélder Feitosa, assassinado em 1987, um crime de grande repercussão no estado do Piauí que nunca foi totalmente esclarecido.