Piauí nos Álbuns da Pátria

12/9/2020

Antigamente era muito comum o lançamento dos famosos álbuns de figurinhas visando a coleção e versando sobre diversos temas. Entre esses estavam também os curiosos “Álbuns da Pátria” cuja temática eram as riquezas naturais, a exaltação dos heróis (Pedro Álvares Cabral, D. Pedro I, D. Pedro II, Princesa Isabel, Tiradentes, Duque de Caxias etc.), as datas nacionais (7 de setembro, 22 de abril etc.) e tudo aquilo que o Brasil tinha de melhor como Nação.

Muito desse orgulho patriótico vinha nesses álbuns misturados com figurinhas de super-heróis, carros, esportes, programas de televisão e astros da música. Tudo com a intenção de atingir vários públicos principalmente os mais jovens.

Álbum Balas Atlas do Brasil.
(1951 / Acervo digital Teresina Antiga)

Esse sentimento nacional tem se perdido um pouco com o tempo limitando-se ao futebol essencialmente no período das Copas do Mundo. Isso se deu muito por causa da ideia errônea injetada entre nós de que o nacionalismo e o amor à Pátria são coisas “irracionais”. Felizmente nos dias de hoje o valor patriótico tem voltado e cada vez mais forte entre os brasileiros.

Entre os vários álbuns encontrados (Nota 1) há destaques para o estado do Piauí e a capital Teresina. Estavam representados com imagens e informações como área territorial, população e clima, assim como os demais estados da Federação.

Figurinha do álbum Brasil Minha Pátria.
(1972 / Acervo digital Teresina Antiga)

A primeira vez que se tem conhecimento de que o Piauí aparece nesse tipo de coleção foi no Balas Atlas do Brasil, de 1951 (Nota 2), produzido pela Indústria de Produtos Alimentícios Atlas do Brasil Ltda. Os destaques foram para as imagens do brasão do estado e do governador Pedro Freitas em seu primeiro ano de mandato.

Há também um desenho de uma rua de Teresina que não foi identificada, mas que lembra um pouco a Avenida Antonino Freire. Existe a possibilidade de terem inserido qualquer ilustração de rua para representar a capital, algo bastante comum nesses álbuns. A Avenida Antonino Freire aparece mesmo em 1975 quando a editora Saravan lançou o Só Brasil.

Álbum Estudos Sociais de 1º Grau, da editora Sadira.
Obs.: Consertamos a foto do governador Dirceu Arcoverde que no original foi trocada pela do governador do Acre.
(1975 / Acervo digital Teresina Antiga)

Já no álbum Brasil Minha Pátria (1972), há um fato curioso. Entre os cromos aparece um desenho da capital lembrando o Sítio Histórico da Bandeira com uma edificação se assemelhando à Igreja do Amparo sem as torres. Porém, as construções ao redor presentes são muito diferentes. Sem contar que na época de lançamento desse álbum a Igreja do Amparo já possuía suas torres.

Parte do Sítio Histórico da Bandeira aparece de verdade no álbum Estudos Sociais de 1º Grau (1975), da editora paulista Sadira. No caso a imagem mostrava os antigos jatos jorrantes da Praça Marechal Deodoro. Nessa mesma página, a editora havia colocado equivocadamente a foto de Geraldo Mesquita (Governador do Acre) no lugar de Dirceu Arcoverde (Governador do Piauí entre 1975 e 1978). O Teresina Antiga tomou a iniciativa de reparar o erro.

Piauí na Enciclopédia Escolar Figurinhas, da editora Sadira.
(1976 / Acervo digital Teresina Antiga)

A editora Sadira também lançaria a Enciclopédia Escolar Figurinhas (1976). Tanto aqui como no álbum Estudos Sociais de 1º Grau (1975) estava a representação da fauna, flora e produtos do Piauí entre eles cactos (Ou cactus), carnaúba, gado, cal, jenipapo e juazeiro (Escrito juaseiro, um grosseiro erro ortográfico).

Chama a atenção, por fim, duas figuras. A primeira era uma suposta “ave símbolo do estado” que nos dois álbuns era a seriema (Ou siriema). Outro dado curioso eram as tais areias monazitas (Ou monazíticas) que teriam propriedades terapêuticas (Segundo achados do médico Antônio da Silva Mello) e também continham minérios raros usados na metalúrgica, eletroeletrônica e usinas nucleares como o tório e o nióbio. Consta que realmente o Brasil exportava esse tipo de areia. Muitas vezes o produto saía do país com preço abaixo do valor no mercado internacional ou de maneira ilegal através de contrabando disfarçado de “lastro” em embarcações estrangeiras. O Piauí, ao que tudo indica, também estava nessa rota de exportação sendo as areias monazitas encontradas na região do litoral (Luís Correia e Delta do Parnaíba) (Nota 3).

Avenida Antonino Freire no álbum Só Brasil, da editora Saravan.
(1975 / Acervo digital Teresina Antiga)

Notas:

(1) As imagens encontradas são todas da página Álbum e Figurinhas.

(2) O que não significa dizer que foi em 1951 a primeira vez que o estado do Piauí esteve nessas coleções de cromos, pois pode ter aparecido em anos anteriores. Simplesmente foi o mais antigo que encontramos.

(3) A ditadura da China comunista (Sempre ela!) detém ainda o monopólio de extração de minérios como o nióbio e impõe limitações ao Brasil sendo por isso acusada muitas vezes de firmar acordos ilegais ou mesmo contrabando. No século XX, contrabando e acordos ilegais de minérios também estavam em voga. O maior contrabandista de monazita no país foi Boris Davidovitch (O “Barão da Monazita“, nascido em Odessa, na Ucrânia) que desde 1941 mantinha uma empresa em Guarapari (Espírito Santo) com trabalhadores em condições insalubres. Exportou durante 30 anos para todo o mundo, mesmo existindo um acordo firmado em 1945 com os Estados Unidos. Tanto Boris como o acordo foram alvos da CPI da energia atômica, em 1956. Nesse mesmo ano, a Du Pont de Nemours, famosa empresa metacapitalista da área química, fez estudos do subsolo (Por meio da Interamerican Geodetic Survey) em glebas de terra do litoral piauiense para extrair monazita sem consentimento do Governo Brasileiro o que causou certo rebuliço. Até onde se sabe, o plano do truste não foi para frente uma vez que Séptimo Clark Filho (Da Casa Ingleza, com propriedade na Ilha do Caju), um represente da família de Alberto Silva (Prefeito de Parnaíba de 1955 a 1959, possuía casa na Ilha Grande de Santa Isabel) e Francisco de Souza Brandão (Ilha dos Poldros, no Maranhão) não negociariam nada até saber o que havia de fato em suas terras, segundo o jornal A Imprensa Popular.