Palacete do Dr. Freire de Andrade
21/1/2016
Na esquina da Avenida Antonino Freire com a rua David Caldas, ao lado da Praça Pedro II, ergueu-se imponente um suntuoso palacete de dois pavimentos e com traços arquitetônicos que chamam bastante a atenção dos transeuntes. Pelas características similares a de outras edificações existentes no Centro de Teresina, este imóvel parece ter sido construído entre o final da década de 1920 e o início da década de 1930.
Palacete do Dr. Freire de Andrade.
(1934 / Almanaque da Parnaíba / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
Consta que era uma das casas mais confortáveis e elegantes de Teresina na primeira metade do século XX. E tal prerrogativa se explica uma vez que estava localizada em uma área nobre da capital na época. Se hoje a elite teresinense tem preferência em habitar determinados pontos da Zona Leste, no início do século XX as famílias mais ricas residiam no perímetro que ia da Praça Pedro II até parte da Avenida Frei Serafim (Nas proximidades da Igreja São Benedito), talvez o metro quadrado mais caro da cidade naqueles tempos. Esse local, conhecido como Zona Central, era repleto de chácaras e casarões luxuosos.
Para se ter uma ideia disso, na atual Avenida Antonino Freire (Até 1934 possuía outras denominações como rua São Benedito, rua Padre Marcos, prolongamento da Avenida Frei Serafim e Avenida Odilon Araújo) estava o Palácio de Karnak, sede do Governo do Estado do Piauí desde 1926, e casas de políticos influentes como a de Antonino Freire.
Aspecto da Praça Pedro II, provavelmente entre as décadas de 1940 e 1950.
No centro da imagem, o palacete do Dr. Freire de Andrade.
(s/d / Casa da Cultura / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
A residência da Praça Pedro II era propriedade de Francisco Freire de Andrade, renomado médico da capital piauiense e, posteriormente, deputado federal eleito no pleito de 03 de maio de 1933. Também dirigiu a Santa Casa de Misericórdia de Teresina, a Saúde Pública, além de lecionar na Escola Normal.
É curioso notar que conseguiu alcançar todos esses cargos e gozar de incrível prestígio na elite teresinense mesmo sendo negro, pois se sabe que as pessoas de cor (Expressão que se usava na época para os que tinham pele escura) dificilmente chegavam a esse patamar devido ao preconceito reinante, herança de séculos do regime de escravidão no Brasil. Genu Moraes, filha do ex-governador Eurípedes de Aguiar, recorda que Freire de Andrade era filho do padeiro Vitalino e da dona de casa Luísa Freire de Andrade (Conhecida como Nenem) revelando que veio de família humilde e conseguiu renome, em grande parte, por méritos próprios.
Nascido em Teresina, em 1888, ano da Abolição da Escravatura, obteve aos 23 anos, com distinção, a formação na Faculdade de Medicina da Bahia. Ao regressar a Teresina trabalhou como clínico e operador na Santa Casa de Misericórdia e atuou na campanha de vacinação contra a varíola no Piauí.
Francisco Freire de Andrade.
(1934 / Almanaque da Parnaíba / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
Quando habitava o palacete da Praça Pedro II já havia contraído matrimônio com Áurea Freire de Andrade. Assim como outros membros da high society da capital, o casal costumava participar de distintos bailes de Carnaval entre eles o do Clube dos Fanfarrões, como bem lembra Arimathea Tito Filho.
Freire de Andrade e seu palacete ficaram realmente conhecidos com a visita do presidente Getúlio Vargas a Teresina em 23 de setembro de 1933. Na falta de um grande hotel para os convidados ilustres, foi no palacete do médico que o político gaúcho e seus ministros (Juarez Távora e José Américo de Almeida) passaram a noite. O casal não permaneceu junto à comitiva presidencial. Teve que se alojar em outra residência.
O palacete em 2015
(Março de 2015 / Acervo digital Teresina Antiga)
Francisco Freire de Andrade faleceu em 1969 na cidade do Rio de Janeiro, enquanto exercia cargo de representante do Governo do Piauí naquele estado. Em sua homenagem, foi dado seu nome a uma rua no bairro São João (Zona Leste de Teresina) através do Decreto Municipal n°74 de 1976, e a uma escola pública municipal em Piripiri que, infelizmente, deixou de existir ainda em 1973.
O palacete, que também serviu de residência ao ex-governador José da Rocha Furtado e pertence hoje à família do falecido deputado Ciro Nogueira Lima, permanece no mesmo lugar com a diferença que deixou de ser uma moradia e passou a abrigar uma loja comercial. Entre 2015 e a data desta postagem, o imóvel aparentava estar praticamente intacto, embora possua algumas descaracterizações de sua arquitetura original (Destruição de janelas no segundo pavimento – algumas em formato de arcos ogivais – e inserção de esquadrias de ferro).
Ajudaram para esta postagem:
# MORAES, Genu (Depoimentos ao jornalista Kenard Kruel). Genu Moraes: A mulher e o tempo. Teresina: Zodíaco, 2015.
# TITO FILHO. José de Arimathea. Ruas de Teresina. O DIA. Teresina: 11 de novembro de 1989. ARQUIVO PÚBLICO DO PIAUÍ.
# _________________________. Teresina: Ruas, praças e avenidas. Teresina: Prelo, 1986.
# _________________________. Velhos Carnavais. O DIA. Teresina: 29 de janeiro de 1989. ARQUIVO PÚBLICO DO PIAUÍ.