18/3/2015

Muita gente de Teresina que assiste às corridas de Fórmula I, da Fórmula Indy ou da Stock Car nem imagina que décadas atrás, aqui mesmo na nossa capital, aconteceu um evento automobilístico.

Claro, não teve as proporções dos circuitos internacionais (Como o Indianapolis Motor Speedway, em Indianápolis) e nacionais (Como Interlagos ou Tarumã). O evento não era oficial, mas chamou a atenção dos presentes naquela tarde de domingo do dia 19 de dezembro de 1971.

O “circuito”, na realidade, era a Avenida Frei Serafim com percurso circundando a Igreja São Benedito. A princípio pode parecer estranho uma corrida em uma avenida. Afinal, não era apropriada para esse tipo de competição, pois não era um autódromo. No entanto, era comum até 1979 ver no país eventos dessa natureza em avenidas. Foi só com o surgimento da Stock Car naquele ano que ficou estabelecido em todo o Brasil a realização de corridas apenas em circuitos fechados para dar mais segurança ao público e aos pilotos.

Nesta corrida na Avenida Frei Serafim se via nitidamente os espectadores muito próximos dos veículos, alguns inclusive na pista. Por se tratar de “circuito” de rua e sem isolamento do público, qualquer acidente (batidas e capotagens) poderia ser fatal. Felizmente neste I Circuito Automobilístico do Estado do Piauí aconteceu apenas um incidente, sem maiores problemas: um dos modelos – um Alfa Romeo – subiu o canteiro central e quase entrou na Igreja São Benedito. Na realidade, era para ser só uma pequena exibição, mas os pilotos pisaram fundo e o que se viu mesmo foi uma verdadeira corrida de rua em pleno centro de Teresina.

O evento foi organizado pela Federação Cearense de Automobilismo. A entidade havia trazido a corrida a Teresina pois necessitava de dinheiro para arcar com os custos das diversas competições do ano seguinte (1972) no estado do Ceará, entre elas algumas provas do Torneio Norte-Nordeste de Automobilismo que seriam realizadas no Autódromo Virgílio Távora, na cidade de Eusébio (CE). Fez o mesmo em outros estados como Maranhão, Paraíba e Pernambuco, também para arrecadar fundos.

Karts, DKWs, Alfa Romeos, entre outros, eram os modelos (Na verdade protótipos, assim os pilotos os chamavam) que faziam parte do I Circuito Automobilístico do Estado do Piauí. Mas não se engane. Os carros eram adaptados. Para a época eram veículos bem acabados com motores Volkswagen e com o melhor de peças e maquinário que era possível encontrar nos dois grandes centros do automobilismo no Brasil: Rio de Janeiro e São Paulo.

Já os pilotos eram todos do Nordeste (A faixa em uma das fotos dizia que “O Governo e o povo do Piauí saúdam os automobilistas do Nordeste“). O destaque ficou com os cearenses Maninho Brígido Monteiro, Roberto Fiúza Jr. e Marcello Villar. O evento também contou com a presença da mineira Léa Campos, famosa por ser a primeira juíza de futebol do Brasil. Dizia-se, na época, que também era a primeira do mundo. 1971 foi o primeiro ano dela como juíza profissional nos quadros da FIFA. Não se sabe se ela estava em Teresina para apitar alguma partida.

O evento teve apoio financeiro do Governo do Estado, na época em poder do parnaibano Alberto Silva em sua primeira gestão (1971-1975). Os que presenciaram o I Circuito Automobilístico garantem que a prova foi gravada em videotape e que estaria guardada no acervo do já falecido Marcos Tavares Silva, filho de Alberto Silva. Muitos outros eventos no Piauí desta época também foram gravados e estão em mãos de particulares. Ou sabe-se lá aonde.