Conjunto Redenção
9/7/2020
Inicialmente construído em 1966 pela antiga Cohab-PI (Companhia de Habitação do Piauí), o conjunto Redenção (Zona Sul) foi inaugurado um ano depois, exatamente no dia 1º de abril de 1967 sendo que os primeiros moradores chegaram no dia seguinte e aos poucos foram ocupando as casas destinadas a cada um.
Sua construção foi impulsionada pela inauguração, em 1966, do conjunto Monte Castelo, na mesma Zona Sul de Teresina. Era uma época em que a política desenvolvimentista do Governo Militar possibilitou o surgimento dos grandes conjuntos habitacionais da capital. Mais tarde essa política daria origem também ao Parque Piauí, Bela Vista e vários outros.
Fragmento de fotografia da inauguração do estádio Albertão em 1973.
No fundo, o conjunto Redenção (Dentro das listras amarelas).
(26 de agosto de 1973 / Acervo FAGEP / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
Conhecido por abrigar o estádio Albertão e o HUT (Hospital de Urgências de Teresina), no final dos anos 1960, porém, nenhum dos dois existia (Nota 1). A imagem acima foi capturada no dia 26 de agosto de 1973, algumas horas antes da inauguração do estádio Albertão. Excetuando o recinto esportivo, percebe-se os elementos originais anteriores aos anos 1970 como as igrejas Batista e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a Rodovia Federal (Foi apenas com o decreto municipal de 1976 que virou Avenida Getúlio Vargas), o velho grotão, e as casas da Cohab com o mesmo aspecto de quando foram inauguradas em 1967.
Assim como vários outros conjuntos habitacionais de Teresina, os mutuários não tiveram inicialmente água encanada e energia elétrica. Para buscar água era em carros-pipa ou em lugares distantes muitas vezes efetuando pagamentos como, por exemplo, 20 centavos de cruzeiro por litro adquirido. A construção de um chafariz (Hoje em seu lugar está uma praça) no centro do conjunto visava resolver esse problema.
Aspecto da quadra de esportes, das casas
e das ruas do
conjunto Redenção com o pavimento “boca de jacaré”.
(1981 / Acervo de Sônia Guimarães / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
As ruas eram todas de terra batida ou piçarra, resultado típico do terreno que foram edificadas cujo barro alaranjado soltava uma poeira fina da mesma tonalidade. Consta que, por esse motivo, os moradores da Redenção eram facilmente identificados pelo pó nas roupas quando se deslocavam ao Centro da cidade (Nota 2).
No período chuvoso tudo piorava. Durante o inverno teresinense de fevereiro de 1973, por exemplo, algumas casas estavam ameaçadas de desabamento em decorrência dos fortes temporais que se sucederam.
A situação só se resolveu primeiro em 1976 quando a Prefeitura na gestão Wall Ferraz (1975-1979) pavimentou as vias com as precárias pedras boca de jacaré (Somente no final da década de 1980 as ruas ganharam sua primeira camada de asfalto), e com a instalação de galerias de escoamento de água e esgoto em anos posteriores.
Conjunto Redenção em 1974.
(1974 / Jornal O Dia / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
Boa parte das melhorias do início da Redenção se deu por causa da Associação de Moradores, principalmente por seu primeiro presidente: Sanção Santos (Nota 3). Nascido em Teresina em 1918, foi funcionário público estadual e contador. Trabalhou também como humorista e cantor nas rádios teresinenses sendo daí que ganhou o apelido de Guarani. Já aposentado, passou a residir no local e consta que era querido pelos moradores e sempre estava com a casa cheia. Possibilitou a construção da quadra de esportes no final da década de 1960, antes de falecer no ano de 1970. Em sua homenagem, uma praça do conjunto recebeu seu nome em 1976.
A tal quadra de esportes garantiu lazer aos residentes uma vez que a localização da Redenção a deixava isolada e muito distante do centro comercial da cidade. Ficaram bastante conhecidas as partidas entre os clubes de futebol locais no campeonato interbairros de Teresina organizado pelo radialista Dídimo de Castro. Os dois clubes sensação eram o Redenção (De propriedade do seu Geraldo, mais conhecido como “seu Jaú”) e o Combatente (De propriedade do seu Isnad) que por algum tempo bateram várias equipes amadoras da capital.
Foto na quadra de esportes com a equipe amadora Redenção
que participou do campeonato interbairros.
Em pé: (?), Luiz, Vicente, Otacílio, o goleiro Carlos e o técnico Geraldo “Jaú”.
Agachados: Rudinha, Zezinho, Zé Raimundo e Delmiro.
(1968 / Acervo Walderi Arrais / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
Curiosa origem do nome
Assim que terminaram as construções das unidades habitacionais, logo recebeu da Prefeitura Municipal a denominação de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Entretanto, há uma história bastante conhecida entre os primeiros moradores de que o nome Redenção permaneceu devido a uma novela emitida por essas bandas na época. Na trama, havia uma fictícia cidade do interior paulista que era distante de tudo tal como era o conjunto habitacional de Teresina.
Em nossas buscas, a produção que consta tal história foi Sublime Redenção, de Raymundo Lopes, originalmente da extinta Rádio Mayrink Veiga e apresentada em 1957. Chama a atenção que a radionovela era dos final dos anos 1950. Teria sido reexibida dez anos depois por aqui em uma de nossas rádios? Mais intrigante ainda era que, de 1966 a 1968, foi transmitida com muito sucesso pela TV Exclesior uma adaptação dessa mesma produção chamada Redenção, com o ator Francisco Cuoco no elenco e com roteiro do mesmo Raymundo Lopes.
Fica a questão: o nome teria sido pela radionovela ou pela telenovela? A primeira frequência de uma emissora de televisão em Teresina se fez presente somente em agosto de 1968, pois é desse ano que se passou a retransmitir de forma precária a TV Difusora de São Luís (Maranhão). Como a telenovela encerrou em maio de 1968, o nome atual do conjunto provavelmente foi dado mesmo por influência da radionovela.
Durante a década de 1980, moradores tentaram voltar com o nome Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Nesse período a linha de ônibus que servia o conjunto trazia já essa primeira denominação no letreiro confundindo muitos usuários. Não vingou e ficou por pouco tempo, mas nas antigas listas telefônicas de Teresina feitas pela extinta Telepisa nos anos 1990, o nome do conjunto vinha grafado nas páginas cinza (Onde ficavam os dados dos assinantes) como Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Nota 4).
Vista aérea do conjunto Redenção na década de 1980 com alguns locais identificados.
(Década de 1980 / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
Comemorações dos 50 anos
Em 2017 a Redenção completou seu cinquentenário. Visando o ineditismo da data, moradores e ex-moradores iniciaram campanha por melhorias. Entre as reivindicações principais estavam uma nova pavimentação asfáltica das ruas, e reformas da quadra de esportes e da Praça Sanção Santos.
As festividades iniciaram no final de março de 2017 com Missa de Ação de Graças na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, apresentações da Orquestra Sinfônica de Teresina e da Banda da Polícia Militar do Piauí, espetáculos artísticos, homenagens àqueles que fizeram e fazem benfeitorias à comunidade, entre outros eventos.
Foto da frente das quadras M e H com vistas para a rodovia federal.
(1981 / Acervo de Sônia Guimarães / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)
Nome original: Conjunto habitacional Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.
Nome popular e adotado oficialmente: Conjunto habitacional Redenção.
Inauguração: 1º de abril de 1967.
Número de casas construídas em 1967: 302 (Números do Governo Helvídio Nunes).
Financiador: Banco Nacional de Habitação (BNH).
Vias principais: Avenida Getúlio Vargas, Avenida Industrial Gil Martins e Avenida Miguel Rosa.
Notas:
(1) O Albertão foi inaugurado em 1973. Em seu lugar havia matagal e o mesmo barro alaranjado do conjunto Redenção. No período chuvoso, a área formava um lamaçal e alguns terrenos alagadiços ou pequenas lagoas que os moradores e pessoas de outros bairros usavam para lavar roupas. Já o terreno do HUT consistia de uma imensa área verde próxima à Igreja Batista. Durante a gestão do prefeito Heráclito Fortes (1989-1992) foram iniciadas as construções. Fincou-se apenas as estruturas de concreto armado. Só décadas depois que as obras foram concluídas.
(2) Histórias como essa era possível escutar também nos inícios de outros conjuntos habitacionais como o Itararé (Dirceu Arcorverde I).
(3) Também grafado como Sansão Santos tal como aparece na placa da praça de mesmo nome. Optamos pela grafia Sanção Santos tal como escreve A. Tito Filho na obra Teresina: Ruas, praças e avenidas.
(4) Não só o conjunto Redenção aparecia nas listas telefônicas da Telepisa com o nome Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. O Mocambinho vinha com o nome José Francisco de Almeida Neto.