Casa Joca (1897-2019)

12/6/2015 – Atualizações em: 16/11/2016, 11/1/2020 e 3/3/2020.

Com a fundação de Teresina (1852) em uns poucos quarteirões ao redor do Largo do Amparo e com o desenvolvimento da cidade nas últimas décadas do século XIX, muitos estabelecimentos comerciais apareceram visando suprir a demanda local e até mesmo a do interior do Piauí e do Maranhão. Um desses estabelecimentos era a firma João M. Broxado & Comp., popularmente conhecida como Casa Joca, fundada em 1º de setembro de 1897, propriedade do teresinense João Maria Broxado – o Joca -, e instalada na esquina da rua Eliseu Martins com a rua Barroso.

Casa Joca
(1910 / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Conhecidíssimo ponto da cidade no final do século XIX e no início do século XX, era referência na capital e tinha de tudo: vendia gêneros diversos como louças, fumo, bebidas, ferragens, materiais elétricos e de construção, pequenas mercadorias, além de fornecer serviços de comissões, consignações e representações importando ou exportando produtos.

Devido à sua importância no comércio da cidade, João Maria Broxado foi também um dos diretores da Associação Comercial Piauiense. Possuía também outro estabelecimento chamado de Saboaria Therezinense. Tratava-se de um depósito/fábrica de sabão a vapor, chamado assim porque uma das etapas da confecção do produto consiste em eliminar vapores tóxicos provenientes da soda cáustica.

Anúncio comercial do estabelecimento Saboaria Therezinense, de João Maria Broxado.
(1906 / Jornal O Commercio / Acervo digital Teresina Antiga)

O comerciante/industrial também teve importante papel ao adquirir da cidade do Rio de Janeiro as primeiras linhas telefônicas particulares de Teresina instaladas oficialmente em 13 de junho de 1907 com apoio do Governo do Estado – gestão de Álvaro Mendes (1904-1907) – e de outros comerciantes. Foram 18 linhas que deram origem à chamada Empreza Telephonica. Embora tivesse em 1911 em torno de 57 aparelhos ou terminais, as atividades da companhia só duraram até mais ou menos 1918 (Nota 1).

Em 1912, pôs à venda todas as suas empresas (Casa Joca e Saboaria Therezinense) e dependências, além também de uma vila de operários composta de seis casas na rua Desembargador Freitas.

Anúncio comercial do estabelecimento Casa Joca, de João M. Broxado & Comp.
(1907 / Jornal O Commercio / Acervo digital Teresina Antiga)

Destruição

No primeiro semestre de 2016, a equipe do Teresina Antiga encontrou um conteúdo de fotos pertencente ao acervo da Fundação Cultural do Piauí (FUNDAC). As imagens, datadas de 1987, mostram a demolição interna da Casa Joca e a descaracterização de diversas partes do imóvel.

Por essas imagens se teve o conhecimento de que funcionou no lugar a antiga Livraria Corisco. Até 1987 o estabelecimento só não tinha exatamente o mesmo aspecto que tinha na imagem acima de 1910 em decorrência de algumas portas com esquadrias de ferro. E foi em 1987, conforme se vê nas fotos dos arquivos da FUNDAC, que se iniciou a descaracterização do imóvel principalmente com a retirada de ornamentos e substituição das antigas portas de madeira.

Interno do antigo estabelecimento Casa Joca sendo destruído.
(Setembro de 1987 / Acervo da FUNDAC / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: Wagner Santos)

A descaracterização não parou por aí. Promoveu-se também mudanças estruturais graves, as quais foram ditas na época como uma simples “reforma” ou “restauração”. Como se não bastassem a remoção de decorações e portas, o teto e todo o interior da casa foi abaixo.

Ao lado da antiga Casa Joca, na Rua Eliseu Martins, estava outro imóvel importante de Teresina: a casa da Professora Lilásia Chaves. Foi totalmente demolida para dar lugar a algo já comum no Centro de Teresina: um estacionamento de automóveis.

Área externa do antigo estabelecimento Casa Joca.
Percebe-se a descaracterização do lugar.
(Setembro de 1987 / Acervo da FUNDAC / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: Wagner Santos)

A FUNDAC, em seu acervo, menciona equivocadamente que na antiga Casa Joca funcionou também a Casa Leão e o extinto Banco Sudameris. Entretanto, os dois estabelecimentos ficavam na rua Álvaro Mendes, sendo que o banco substituiu, ainda na década de 1980, a antiga Casa Leão.

Ornamento do antigo estabelecimento Casa Joca sendo removido.
(Setembro de 1987 / Acervo da FUNDAC / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: Wagner Santos)

Atualmente

Enquanto empresa comercial, a Casa Joca já não existe mais, assim como o seu proprietário, João Maria Broxado, falecido no Rio de Janeiro. O espaço físico, porém, permanecia no cruzamento das ruas Eliseu Martins e Barroso até 2019.

Livraria Corisco funcionando no antigo estabelecimento Casa Joca. Detalhe para o imóvel com o mesmo aspecto da foto de 1910, salvo algumas alterações.
(Setembro de 1987 / Acervo da FUNDAC / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: Wagner Santos)

Algumas mudanças são perceptíveis nas fotos que foram tiradas em junho de 2015 e setembro de 2016. A começar pelos detalhes nas laterais superiores, as ornamentações e tudo que ficava próximo do nome “Joca” na foto de 1910. Todos foram destruídos. As portas que ficavam na rua Barroso também foram alteradas e se transformaram em janelas e vitrines e um ano depois – em 2016 – desapareceram. E por incrível que pareça, a porta de madeira e cinco janelas azuis no lado da rua Eliseu Martins estavam conservadas e aparentavam estar com o mesmo aspecto da imagem de 1910. Em setembro de 2016 passou a funcionar no lugar o Cartório 7º Ofício de Registro de Imóveis, ao contrário de um anos atrás onde se encontrava abandonada e com algumas pichações.

Antiga Casa Joca abandonada em 2015.
(Junho de 2015  / Acervo digital Teresina Antiga)

Entretanto, em 2019 foi totalmente destruída para dar lugar a um estacionamento de automóveis mesmo depois de ter sido parte importante do comércio e da história da capital.

Antiga Casa Joca como cartório em 2016.
(Setembro de 2016 / Acervo digital Teresina Antiga)

Confira mais imagens da Casa Joca em 1987

Edificação: Casa Joca
Local: Esquina das ruas Eliseu Martins e Barroso
Inauguração: 1897
Primeiro proprietário: João M. Broxado
Demolição: 2019

Nota:

(1) Boa parte das informações deste trecho consta no livro O Piauí no século 20: 100 fatos que marcaram o Estado de 1900 a 2000, de Zózimo Tavares. (Teresina: Alíneas Publicações Editora, 4ª ediçao, 2003).