Rua Simplício Mendes

24/4/2021

História

A rua Simplício Mendes é uma das vias mais antigas de Teresina. Assim como outras do Centro, foi uma das primeiras idealizadas por José Antônio Saraiva e João Isidoro França e aberta pelo trabalho braçal dos escravos e trabalhadores livres no século XIX.

Trata-se de uma via em sentido norte-sul, que “corta” várias outras do Centro da capital piauiense com logradouros importantes em sua extensão como a Praça Rio Branco, a Praça Saraiva, a Praça Landri Sales (Praça do Liceu) e o Liceu Piauiense (Colégio Estadual Zacarias de Góis). Estende-se, atualmente, da Avenida Miguel Rosa até a Avenida Industrial Gil Martins, na Zona Sul.

Rua Simplício Mendes sendo calçada.
(1938 / Casa da Cultura / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

É importante destacar que, no princípio, a rua alcançava apenas o trecho entre a Lisandro Nogueira e a Álvaro Mendes. Isso porque Teresina, em 1852, compreendia somente de uns poucos quarteirões ao redor do Largo do Amparo (Hoje Praça Marechal Deodoro, popularmente conhecida como Praça da Bandeira).

Da mesma forma que outras ruas, seu nome inicial era outro (Nota 1). Muito provavelmente, no século XIX, a denominação popular vingou, baseada em alguma referência do local ou característica marcante, tal como a rua da Palmeirinha, rua do Fio, rua Grande, rua do Pequizeiro e rua Bela (Nota 2).

Rua Simplício Mendes.
(1938 / Casa da Cultura / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Segundo A. Tito Filho, foi nomeada de Quintino Bocaiúva logo após o golpe militar que depôs o monarca Pedro II e instalou a República no Brasil, em 1889. Foi por essa época que vários nomes de ruas foram modificados para glorificar o novo regime, pois se acreditava que tudo relacionado à Monarquia representava o “atraso”.

Tudo indica que a denominação durou pouco tempo. Ainda entre as décadas de 1920 e 1930, era possível ver uma outra rua Quintino Bocaiúva em outro trecho bem distante da atual rua Simplício Mendes, cruzando a Avenida Frei Serafim e próxima à Igreja São Benedito.

Trecho da rua Simplício Mendes antes de virar o “calçadão”.
No fundo, a Torre do Relógio da Praça Rio Branco.
(1977 / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Com a mudança, passa a se chamar Simplício Mendes. Era uma homenagem a Simplício de Sousa Mendes, médico formado pela Faculdade de Medicina da Bahia e professor de Geografia e Retórica do Liceu Piauiense. Nascido em Oeiras (Piauí), em 1823, foi Presidente da Província do Piauí, em 1853, logo após a saída de José Antônio Saraiva. Esteve nesse cargo ainda por mais três oportunidades, sendo deputado provincial também em várias ocasiões até seu falecimento em Teresina, em 1892.

A mudança, no entanto, durou pouquíssimo tempo. Em 1939, as ruas do Centro sofreram alterações de nomenclatura quando passavam por praças ou lugares com elevação no relevo. A rua Simplício Mendes, portanto, ficou com esse nome apenas de uma parte da Zona Sul (ainda não existia a avenida Industrial Gil Martins) até a Praça Rio Branco. Da Avenida Miguel Rosa até a Praça Landri Sales ficou sendo rua Almirante Tamandaré. E da Praça Landri Sales até a Praça Rio Branco com a denominação de rua Coelho Neto. O ato administrativo municipal de 1976 tornou nula essa divisão e a via passou a ser denominada, em toda a sua extensão, como Simplício Mendes.

Trecho da rua Simplício Mendes antes de virar o “calçadão”.
Nota-se a presença do posto de combustível.
(1977 / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Comércio e o "calçadão"

Desde algum tempo, a rua Simplício Mendes, no Centro, era uma área voltada para comércios. Por essa característica, o trecho entre a Torre do Relógio da Praça Rio Branco e a Praça Saraiva ficou conhecido na cidade por abrigar diversas lojas comerciais importantes como a Casa Dôta, a Ocapana e a Paulista Lundgren & C. Ltd. que logo virou a popular Casas Pernambucanas.

Até 1977, esse trecho era asfaltado e trafegavam veículos. Ali, concorriam com os comércios um posto de gasolina chamado Moraes S.A e um estacionamento (Entre a Álvaro Mendes e Paissandu) que dificultavam ainda mais o trânsito na diminuta rua.

Calçadão da Simplício Mendes.
No fundo, a Igreja de Nossa Senhora das Dores, na Praça Saraiva.
(s/d / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Havia, também, uma suposta recomendação do Governo Federal para a retirada gradativa de veículos no perímetro central, visando a economia de combustíveis em decorrência da Crise do Petróleo que atingiu o Brasil e o mundo, entre 1973 e 1979. Esperava-se que a medida reduzisse, igualmente, os congestionamentos.

A Prefeitura Municipal, na gestão de Wall Ferraz (1975-1979), junto com a ETURB (Empresa Teresinense de Desenvolvimento Urbano), iniciou as obras na metade do ano de 1977. Foram impedidos os veículos de transitar (Com exceção do Corpo de Bombeiros) entre as praças Rio Branco e Saraiva, exceto nas ruas perpendiculares. O trecho com o estacionamento entre a Álvaro Mendes e a Paissandu, previsto no projeto para encerrar suas atividades, acabou permanecendo tendo essa parte destinada à entrada e saída de carros.

Calçadão da Simplício Mendes.
Ao lado, as badaladas lojas comerciais da época: Ocapana e Casas Pernambucanas.
(s/d / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Surgiu, então, o Calçadão da Simplício Mendes (Apenas para pedestres) com paralelepípedos no lugar do pavimento asfáltico, arborização e bancos móveis beneficiando principalmente as lojas comerciais. Com o decorrer do tempo, acabou sendo ocupado por vendedores ambulantes (Camelôs) até a inauguração do Shopping da Cidade, em 2009, na Praça Marechal Deodoro, que reduziu bastante a presença deles ali.

Atualmente, a ideia original do calçadão praticamente desapareceu. Há hoje uma espécie de “semi-calçadão” com a presença de pedestres e veículos menores na área.

Calçadão da Simplício Mendes repleto de ambulantes.
(s/d / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Notas:

(1) Desconhecemos o nome da Rua Simplício Mendes na época do Império.

(2) Respectivamente, ruas Clodoaldo Freitas (“Palmeirinha”, pois havia uma palmeira na esquina com a Avenida Miguel Rosa), Coelho Rodrigues (Devido ao fio do telégrafo), Álvaro Mendes (Era a maior rua de Teresina antigamente), Paissandu (Um pequizeiro na rua) e Senador Teodoro Pacheco (“Bela” por causa dos casarões que davam um ar charmoso ao lugar).