Pontão do Poty Velho

27/3/2021 – Atualização em: 5/4/2021

Não é fato desconhecido de que o Piauí de séculos atrás e o de hoje ainda, diga-se de passagem, conviveu e convive muito com os chamados pontões. Tratam-se de balsas que na ausência de uma ponte levam pessoas e veículos de um lado a outro revelando, entre outras coisas, o atraso e a precariedade do sistema de transportes reinante em nosso estado.

Em Teresina, mesmo depois da construção de sua primeira ponte em 1935, era possível vê-las diariamente nos rios Parnaíba e Poti. Vários locais eram travessias famosas como a de onde hoje está a Ponte Juscelino Kubitschek (Ligando as avenidas Frei Serafim e João XXIII), o Porto do Centro (Na região do Zoobotânico) e o Poty Velho.

Aspecto do pontão inaugurado pela gestão Wall Ferraz em 1986.
(1986 / Jornal O Dia / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

No caso específico do Poty Velho o pontão usado levava pessoas para o povoado rural Santa Maria conhecido pejorativamente como Poeirão e distante dali aproximadamente uns 6 km. Nitidamente tinha esse nome uma vez que todas as vias eram de carroçal como a estrada até o povoado São Domingos e a que foi construída em 1973 pelo prefeito Joel Ribeiro ligando a Socopo à região de vacarias da Santa Rosa – esta última via era um pouco distante da Santa Maria, mas importante para se chegar até lá (Nota 1).

A região começou a ser povoada faz bastante tempo. Isso pode ser comprovado através de dois mapas da Biblioteca do Arquivo Nacional: um da província do Piauí, de 1873, que já mostra o povoado Vassouras (Fundado por maranhenses, hoje é chamado de Santa Maria das Vassouras) e um outro, já no período da República, de dezembro de 1913, onde já se vê o povoado Santa Maria.

À esquerda, mapa de 1873 mostrando o povoado Vassouras
(Hoje Santa Maria das Vassouras)
À direita, mapa de 1913 com o povoado Santa Maria.
(1873 e 1913 / Biblioteca do Arquivo Nacional / Acervo digital Teresina Antiga)

A antiguidade dessas localidades se explica em parte pela importância histórica da estrada a São Domingos – que liga o Poty a esses povoados –, pois era por ela que antigamente se dirigiam as pessoas da primeira capital (Oeiras) ao norte do Piauí. Por esse motivo, parece estranho que moradores antigos da Santa Maria digam que ela tenha surgido só bem tardiamente. Qual seria a razão dessa aparente confusão?

Na realidade se tratam de duas áreas diferentes, porém próximas uma da outra: o velho povoado Santa Maria e um outro lote desmatado que o Governo do Estado instalou, na década de 1960, a Companhia de Distritos Industriais do Piauí (CODIPI) (Nota 2). Como nessa região a CODIPI não foi adiante por políticas desordenadas e a economia local frágil, ficou esse terreno quase abandonado e à mercê de pessoas da velha povoação que o invadiram paulatinamente e acabaram construindo ali casas se transformando nos primeiros moradores daquele lugar (Nota 3). Portanto, a junção do antigo povoado Santa Maria com a gleba da CODIPI é o que se chama hoje de Santa Maria da Codipi. 

Pontão de menor capacidade usado nos anos 1970 para a travessia no Poty Velho.
(1978 / Teresina 155 anos / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

O pontão

Desde muito tempo atrás, do antigo cais do Poty Velho até a estrada de São Domingos só se atravessava o rio Poti por meio de pontão. Nos primeiros tempos era usado um menor que foi substituído em 1986 por iniciativa da gestão do prefeito Wall Ferraz (1986-1988) e de Augusto César Basílio, Diretor Municipal de Estradas de Rodagem.

Através de tecnologia da firma piauiense Marchão Mecânica foi inaugurado um pontão rebocador com capacidade de 25 toneladas movido a motor MWM de quatro cilindros possuindo hélice, reversor marítimo e eixos e discos de comando. Para a travessia a Prefeitura Municipal cobrava uma taxa mínima de manutenção aos usuários.

Inauguração do pontão rebocador para a travessia do rio Poti com a presença do prefeito Wall Ferraz e populares.
(1986 / TV Pioneira / Acervo digital Teresina Antiga)

Apesar da robustez aconteceu um acidente em 1988 que é lembrado por muita gente da época. A força das águas fez com que as cordas se arrebentassem e a balsa ficou à deriva no rio Poti com quase 70 pessoas. Os passageiros foram resgatados por outro barco quase 10 km depois. Momentos de pânico que foram registrados em uma reportagem da antiga TV Pioneira.

Trecho de reportagem de 1988 veiculada na antiga TV Pioneira sobre um acidente que aconteceu no extinto pontão do bairro Poty Velho, zona norte de Teresina. Na ocasião, as cordas se romperam e o pontão ficou à deriva no rio Poti.
(1988 / TV Pioneira / Acervo digital Teresina Antiga)

O pontão encerrou suas atividades na gestão Heráclito Fortes (1989-1992) com a inauguração – quase próximo ao lugar da velha travessia – em 1991 da Ponte do Poty Velho (“A ponte dos cem dias”), oficialmente Ponte Mariano Gayoso Castello Branco, nome dado principalmente por esta família (Os Gayoso Castello Branco) possuir grande estrutura fundiária e movimentação política na região da Santa Maria.

Imagens da Ponte do Poty Velho inaugurada em 1991 ligando o bairro à região da Santa Maria da Codipi (Zona rural na época). Oficialmente tem o nome de Ponte Mariano Gayoso Castello Branco.
(1991 / TV Pioneira / Acervo digital Teresina Antiga)

Notas:

(1) Boa parte da estrada para o povoado São Domingos virou a Avenida Poty Velho. Já a estrada Socopo-Santa Rosa é a atual Avenida Dr. Josué de Moura Santos. Antes da construção da ponte, os poucos ônibus da Emvipi (Inaugurada em 1983 e com coletivos rurais nas cores amarelo e verde) trafegavam pela Socopo-Santa Rosa e seguiam depois pela estrada de São Domingos.

(2) Também chamada de Companhia de Desenvolvimento Industrial do Piauí. Foi fundada em 1956 com o nome de Fomento Industrial do Piauí e extinta em 2008.

(3) Considera-se que os primeiros moradores da área da Codipi foram Francisco Magnólia, Francisco Nunes da Rocha, Lourival Mesquita, Raimundo Dorotéia e Braz Honório que, inclusive, são hoje nomes de ruas do bairro Santa Maria da Codipi.