Aviação em Teresina: dos hidroaviões ao Aeroporto

4/4/2021 – Atualização em: 28/4/2021
  
O começo (Nota 1)

Em Teresina, a aviação começou exatamente em 1930, quando o primeiro hidroavião pousou no cais do rio Parnaíba atraindo um sem-fim de pessoas bastante curiosas. Afinal, era uma oportunidade ímpar e não era todo dia que se via um aparelho daquele tamanho nesses tempos. No mesmo ano era possível ver também, nos céus da capital, um agrupamento de três aviões, fato igualmente raro na cidade principalmente em uma época que muitos meios de transportes ainda se desenvolviam por aqui (Nota 2).

Entre 1930 e 1933 ficaram notáveis a vinda de hidroaviões, além dos voos do Correio Aéreo Militar (CAM). Este último fazia serviço postal, mas também transportava suprimentos de primeira necessidade, oficiais de governo e médicos a localidades remotas. O CAM foi importante ao iniciar, em 1933, uma linha entre Camocim (Ceará) e Parnaíba (Piauí), que logo se estendeu a Piripiri (Piauí) e finalmente Teresina.

Primeiro hidroavião que pousou em Teresina, no cais do rio Parnaíba.
(1930 / Teresina 1852-2002 / Acervo de Dulce Rosa de Oliveira / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Inauguração do campo de pouso

Com o serviço aéreo percorrendo a capital piauiense, foi instalado um campo de pouso na Zona Norte da cidade. Bem rudimentar com umas casinhas de madeira e uma pista terraplanada, mas importante à época. Foi inaugurado em setembro de 1933 por ocasião da visita de Getúlio Vargas (Chefe do então Governo Provisório que logo se tornaria a ditadura do Estado Novo, havia chegado a Teresina por hidroavião) tendo ao lado Landry Salles (Interventor federal no Piauí). Pela circunstância do evento pousaram no campo da capital os aviões da Marinha de Guerra.

Campo de pouso em Teresina, antes da instalação do aeroporto.
(s/d / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Condor Syndikat no Piauí

Logo da instalação do campo de pouso de Teresina, a empresa alemã Condor Syndikat, subsidiária da Lufthansa e que no Brasil virou Syndicato Condor Ltda., começou a operar em 1934, inicialmente com serviço postal dos Correios. Assim, as encomendas no estado tiveram mais celeridade nas entregas.

Mas, o mais esperado era o transporte de passageiros que não demorou muito a chegar. Era pequeno. Contava no máximo de 6 pessoas. Um número razoável tendo em vista que nem todos poderiam pagar por esse transporte.

Anúncio dos horários da Syndicato Condor. Destaque para a linha aérea no Piauí.
(2 de março de 1937 / Airline Timetable / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Assim, a empresa estabeleceu, em 1936, no Piauí, uma linha aérea com hidroaviões Junkers Ju-52/3m acompanhando o curso natural do rio Parnaíba. E como não poderia deixar de ser, a cidade de Parnaíba era ponto de embarque para a Europa, onde outrora aportavam os grandes vapores vindos do Império Britânico.

A tal rota que acompanhava o rio ligava Parnaíba a Teresina com paradas em Porto Alegre (Hoje Luzilândia), Repartição (Na época povoado de Luzilândia, hoje povoado de Matias Olímpio), João Pessoa (Hoje Porto), Miguel Alves e União; e outra de Teresina a Floriano, passando por Belém (Hoje Palmeirais) e Amarante.

Aviões sobrevoam a Igreja São Benedito.
(1930 / Teresina 1852-2002 / Acervo de Dulce Rosa de Oliveira / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Em julho de 1939 surgiu outra linha que adentrava o Piauí. Ia de Teresina a Picos passando por várias cidades do interior do estado como São Pedro, Regeneração e Oeiras.

Com a Segunda Guerra Mundial, o Governo de Getúlio Vargas declarou inimigos não só os governos da Itália e da Alemanha, mas também empresas desses países. Logo, a Syndicato Condor, por sua origem alemã, foi destituída e em seu lugar, mais tarde, em 1943, surgiria a Cruzeiro do Sul.

Chegada do presidente Humberto de Alencar Castello Branco a Teresina.
Ao seu lado, o prefeito Petrônio Portella.
No lado direito, com traje religioso, Dom Avelar Brandão.
Ao fundo as obras do aeroporto.
(Maio de 1965 / Cidade Verde / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: Guilherme Müller)

Aeroporto

O número de empresas voando para Teresina e outras cidades piauienses aumentou consideravelmente nas décadas de 1950 e 1960. O de aerovias também. A Panair fazia percurso a Parnaíba e, inclusive, fez melhorias no campo de pouso da cidade. O consórcio Real Nacional, em fevereiro de 1955, já estava com trajetos de Teresina a São Luís, Parnaíba e região Sudeste. A VARIG, ainda em 1962, operava na capital ligando-a a Fortaleza.

Quase todas as capitais e principais centros nordestinos estavam interligados aereamente. Nesse tempo, voar pelo Nordeste parecia ser muito mais fácil que hoje, guardadas as devidas proporções.

Aeroporto de Teresina.
(Década de 1970 / Acervo Alcides Bisneto Lages / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Entretanto, o velho campo de pouso de Teresina, localizado em um terreno da Zona Norte, próximo à Avenida Centenário, já era muito acanhado e dificultava a vinda de determinados tipos de aeronaves.

O Governo Federal, por meio da Comissão de Aeroportos da Região Amazônica (COMARA), efetuou, em 1961, a construção de um aeroporto na capital piauiense, promessa do presidente Jânio Quadros. Já no período militar, quando o presidente Humberto de Alencar Castello Branco e sua comitiva visitaram Teresina, inaugurando inclusive uma escola em 1965, uma foto foi batida por Guilherme Müller e é possível ver as obras do aeroporto em andamento.

Aeroporto de Teresina.
No lado esquerdo, em cima do canteiro central, é possível ver o busto de Santos Dumont.
(Década de 1970 / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Foi assim inaugurado em 30 de setembro de 1967 o aeroporto de Teresina (No mesmo lugar do antigo campo de pouso) que consistia de uma estação de passageiros, pátio de manobras e uma pista com pavimentação asfáltica de 1800 metros de extensão. Estava sob administração do Departamento de Aviação Civil (DAC), órgão ligado ao Ministério da Aeronáutica (2ª Zona Aérea).

Ficou conhecido como Aeroporto Santos Dumont ainda durante as construções, em 1965, sendo instalado ali em frente, em 1969, um busto de Alberto Santos Dumont (1873-1932) pela Semana da Asa, uma vez que era o homenageado do evento naquele ano. Ainda hoje o monumento está presente no mesmo lugar. Só em 1999, através da lei 9942 de 22 de dezembro, é que foi denominado Aeroporto de Teresina Senador Petrônio Portella com a inauguração de um busto – também ainda hoje existente – do falecido político piauiense.

Cena do filme Guru das Sete Cidades mostrando o Aeroporto de Teresina em 1972.
(1972 / Carlos Roberto Bini / Canal Brasil / Acervo digital Teresina Antiga)

Uma cena presente no filme Guru das Sete Cidades nos dá uma ideia de como eram as áreas internas e externas do aeroporto em 1972, cinco anos depois de sua inauguração. Bem modesto comparado ao que é hoje, estava em uma tonalidade predominantemente verde e com alguns pontos em amarelo.

Pela mesma cena se observa que a VASP já operava na capital. Não somente ela, mas também na década de 1970 a Cruzeiro do Sul seguia; a VARIG continuava na linha Teresina-Fortaleza-Brasília-Rio-São Paulo, através dos seus aparelhos do tipo Trijato; e a Transbrasil com seus Boeings 727.

Em fevereiro de 1975 passou para a administração da Infraero – com exceção da atividade de navegação aérea – e três anos depois a pista teve uma ampliação para 2200 metros de extensão. O pátio de manobras foi ampliado em 1983 para receber as novas aeronaves de grande porte, e no final da década de 1990 recebeu sistema de climatização e nova disposição dos pontos comerciais e da área de check-in.

Aeroporto de Teresina.
(Década de 1970 / Acervo Alcides Bisneto Lages / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Novo aeroporto

Embora uma reforma em 2011 tenha ampliado as operações das salas de embarque e desembarque e esteira de bagagens entre outras melhorias, o Governo do Estado do Piauí cogitou a construção de um novo aeroporto em Teresina.

Três anos depois, em 2014, a Prefeitura pensou diferente. Simplesmente mais uma reforma. Porém, para isso teria que desapropriar e indenizar os moradores do entorno, principalmente aqueles da Avenida Centenário e Avenida Campo Maior com casas à beira do muro. Um total de 346 imóveis. Não deu certo. Uma confusão se estabeleceu e se tornou inviável.

Aeroporto de Teresina.
(s/d / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Seguiu-se mesmo a ideia de um novo aeroporto. O lugar escolhido pelo Governo do Estado foi uma área de 400 hectares dentro do povoado Cebola, fora do perímetro urbano e localizado no Rodoanel, nas proximidades da BR-316 entre a capital e Demerval Lobão (Nota 3).

No entanto, esse projeto só estaria previsto para daqui quase 30 anos! Quando enfim sair do papel, o velho aeroporto deverá ser desativado e todo o terreno servirá para a especulação imobiliária, pois faz tempo se sabe que a sua área atrapalha a construção de grandes edifícios na Zona Norte de Teresina iguais aos existentes nos bairros Ilhotas, Jóquei e Noivos.

Avião da Cruzeiro do Sul em Teresina.
Ao fundo se percebem as obras e a pista de pousa ainda de terra.
(s/d / Teresina 1852-2002 / Acervo de José Lopes dos Santos / Acervo digital Teresina Antiga / Foto por: n/d)

Notas:

(1) Um número considerável de informações nesse artigo nos foi repassado, via Facebook, pelo visitante Alcides Bisneto Lages, em julho de 2017. Agradecemos imensamente pela ajuda fornecida.

(2) Ao que tudo indica, na história da aviação piauiense, o pioneirismo não coube a Teresina, a exemplo de outras novidades que chegavam ao estado antigamente. Ou seja, é na cidade nortenha de Parnaíba que se presume o desembarque dos primeiros modelos de aviões do Piauí.

(3) Isto é, sendo mais exata a localização, para se chegar até o povoado Cebola acessa-se a BR-316, depois no Rodoanel e percorre-se uns 2 km.